segunda-feira, 3 de novembro de 2008

- Filosofando na maionese -

Há alguns dias eu tenho prestado mais atenção ao "Arte por Parte", pensado no seu propósito, no que é escrito e colocado aqui e decidi que algumas mudanças eram muito necessárias - primeiro já foi o cabeçalho. É claro que o propósito básico deste blog é ter um espaço virtual na rede onde eu possa colocar os meus trabalhos e falar sobre eles, da sua composição, do que ele quer passar, etc. O grande problema de um blog é o caráter narcisista que ele tem, que algumas vezes se torna chato (eu acho), principalmente quando ficamos muito focados no "eu"... isso me incomoda bastante (no meu blog). É claro que num blog é meio difícil de escapar disso e quem passa pra ler está sujeito a ler um monte de coisas assim.

Então decidi que seria legal falar de outras coisas além da minha própria pintura, que é claro, vai continuar... só vamos mudar um pouco de assunto vez por outra pra desenjoar. Então vamos começar hoje, dando uma viajada na maionese pra falar de uma coisa mais ou menos filosófica, que é perguntar se:

O artista é necessariamente um ser romântico?

Geralmente as pessoas criam a imagem do artista como um ser sensível, romântico e cheio de coisas emotivas, até conhecerem uma meia dúzia deles... É uma queda do cavalo! A arte em si é uma visão romântica da realidade, existe a beleza plástica, etc, mas a pessoa do artista nem sempre corresponde. Isso acontece, talvez, por causa daqueles clichês que as pessoas compram como do artista plástico com uma boina, avental, pensando flores, paisagens e de preferência com sotaque francês. Não sei de onde tiraram isso! É a mesma coisa que achar que todo gaúcho anda de bombacha ou que nas ruas do Brasil tem um bocado de mulatas sambando na rua. Eu nunca vi!



Eu não falo isso com a mesma propriedade de um artista de carreira, pois eu me vejo mais como um artista sub-underground perdido por aí, mas falo sim como um observador do meio. Dos que eu conheço que já fizeram exposições importantes e tudo, eu percebo o quanto é difícil lidar com essa categoria, que mistura o ego inflado dos contantes elogios com atitudes estranhas para as pessoas que a observam. Tem momentos que eu acho que os artistas tem um lado meio punk escondido nas profundezas do seu inconsciente (em alguns mais aflorados do que em outros). Grande parte dos que eu conheço, tem dificuldades de se relacionar com os outros... mas será que isso é porque são artistas? Ou porque todas as pessoas tem dificuldades mesmo de lidar com as outras e não percebemos esse lado macro vendo deste ângulo? Tudo é muito relativo.

Sobre essa visão romantizada da pessoa do artista, não é possível generalizá-lo como um ser cheio de sentimentalismos. Cada um expressa o seu lado romântico dentro do contexto adotado e da forma que julga necessária, se este for o caso. Claro que há a sensibilidade para perceber certas coisas, mas isso não faz do artista um romântico. O movimento do romantismo já se foi há muito tempo e hoje vivemos uma realidade mais racional e crítica, onde o espaço para estas características sofrem sérias concorrências com outros temas, a não ser na música que sempre dá muito espaço para o assunto. Mas voltando ao clichês, nem mesmo o poeta fala só de amor (ou desilusão) o tempo todo, que é outra categoria toda estereotipada pelos outros. Imagine ficar do lado de um poeta delirando sobre o amor o tempo todo... seria um saco!

Mas pra finalizar de vez essa pergunta (de acordo com o meu medíocre ponto de vista), o romantismo não é uma coisa do tipo ser alto, baixo, magro ou boa pinta... é um estado da mente, sob a influência de outro indivíduo. Afinal, do que adianta ser romântico sozinho? Para o romantismo, é preciso um meio de expressá-lo, seja através da escrita, da pintura, da música, de uma flor, de um olhar, de um beijo, de uma simples palavra ou de um gesto, mas é essencial esse meio. Pensando assim, o artista tem uma pequena vantagem sobre os demais, que pode muito bem ser quebrada numa frase encaixada errada na hora em que tudo ia muito bem.

Cada um que tire suas conclusões!



Crédito das fotos:
01 - Adolph William Bouguereau pintando
02 - Steve Lepouras - Aspirações
03 - Pepe Le Gambá - de Chuck Jones

4 comentários:

  1. Olha, meu amigo, posso falar?
    Acho que o buraco é mais embaixo. Nem é questão de "ser artista", muito menos, romântico. A coisa toda passa por um detalhezinho que faz a diferença: O CARÁTER.
    Estou sendo redical? Um caso a pensar...Abraços!!!

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  2. Grande Malcriado, "sub underground" é excelente!! (rsrsrsrsrsrsrsrs) Me lembrei de um amigo que sacaneava uns artistas metidos classificando-os de "pré-vanguardistas antecipacionistas". (rsrsrsrsrsrs)
    Acredito que existam também artistas que vivem de maneira romântica, mas na maioria das vezes somos nós que romantizamos a nossa visão do que eles são ou eram. Modigliani teve uma vida romântica pra quem vê de fora, pra ele deve ter sido um inferno; o que falar de Van Gogh, então? E muitos, muitos outros. Mas ninguém pensa que artistas são estetas acima de tudo, egocêntricos ou frágeis, tímidos ou exibicionistas, devotos ou revolucionários, essas coisas todas. Conheço alguns artistas que só pensam na técnica, parecem matemáticos, chatos até a última ponta; as várias pontas de uma estrela.
    Mas de uma coisa acho que todos compartilham: a sensibilidade. Do artista mais medíocre ao maior gênio, todos devem ter alguma sensibilidade, alguma coisa que os desperta a fazer Arte, a sua própria Arte, se importando com o produto final ou não, mas muito mais preocupados com o fazer, o produzir, porque a Arte é passível de tudo, menos de ficar oculta.
    E, afinal, artistas são, somente, humanos, falíveis e maravilhosos como todo mundo.

    Variar também é uma Arte! (rsrsrsrs)
    Abração!

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  3. Acredito naquela coisa do eu profundo e os outros eus.

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