terça-feira, 11 de novembro de 2008

- Voltando pra casa -

Óleo sobre tela - 50 x 70 cm - 2005
Muitas vezes as inspirações para pintura surgem das fontes mais inesperadas (como em tudo, eu acho). Tem horas que surge num instantâneo despertar ao perceber uma cena num lugar qualquer, em outras vezes surge ao observarmos a beleza de algo corriqueiro, como uma mulher lavando prato, penteando seus cabelos, sentada num sofá pensando na vida, etc e etc. Ao meu ver, o pintor funciona mais ou menos como uma câmera fotográfica inconsciente, muitas vezes. A pintura de hoje surgiu praticamente a partir da cena de um filme.



O filme em questão chama-se "Estrada para Perdição", um filme de gângster, que na verdade trata muito mais da relação pai e filho do que do mundo do crime... muito bom, inclusive. A cena que me motivou é já no final do filme, quando o garoto sobe com sua malinha para uma casa no campo. Não sei explicar o porquê disso, mas esta cena me trouxe boas lembranças antigas de quando a família toda ia pro interior paulista visitar meus tios e lá da estrada, de longe, a gente via as gigantescas árvores na entrada dessas cidades, como Jaboticabal e Bebedouro.

Me permiti então, a partir da cena do filme, misturando com minhas lembranças e usando um pouco de imaginação, criar a cena livremente, sem me prender em detalhes. É claro que existem erros como as copas das grandes árvores que não estão certas, mas o que realmente importa é passar o ar de tranquilidade, de nostalgia, que não sei direito se consegui. A cena é muito simples e mostra um garoto num ambiente rural chegando em casa.

Apesar de simples, deu um trabalho danado, fiz um esboço em giz de cera antes de começar a pintura para ver como ficaria e mesmo assim ainda precisei rever o trabalho um tempo depois de eu ter achado que já tinha terminado... aproveitei e fiz uma experiência meio a lá Van Gogh (guardadas as proporções, logicamente), com um céu mais drámatico e "animado", com pinceladas marcadas e tinta mais grossa, o que foi uma alteração importantíssimas para a composição final. Nessa interferência, tive também que diminuir mais o personagem para criar melhor essa sensação de pequeneza diante da grandeza da natureza, que infelizmente muitas pessoas parecem ainda não perceber.

Por esse trabalho, realmente comprovei que a simplicidade dá um trabalho lascado e por falar nisso, pra encerrar o post de hoje, vai uma frase que fala justamente disto:

"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho"
(Clarice Lispector)


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Voltando pra Casa de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Vedada a criação de obras derivativas 3.0 Unported.

6 comentários:

  1. Pois é, Clarice falou e disse! E os orientais também batem nessa tecla há milênios. Você relata cenas de viagem ao interior de Sampa e recordei-me da cidade de Barretos, há décadas atrás, nunca esquecerei: casarões com jardins deslumbrantes...minha família sempre foi chegada a ser nômade e vivemos viajando e morando de norte a sul, nesse Brasilzão, foi uma experiência enriquecedora para alimentar a nossa fértil imaginação.
    Grande Carinho, amigo!!!

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  2. Olá,

    Sim é verdade!

    Se alguma vez nos perguntarmos por que as crianças estão cheios de vida?...Porque defrutam dessa simplicidade.

    Encantador seu trabalho!...

    [obrigada]

    (a)braços,flores,girassóis:)

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  3. Vou gostar muito que vc acompanhe meu blog, será um prazer. Acho que podemos trocar idéias, inclusive sobre pintura pq eu também faço alguma coisa nessa área.Já publiquei vários trabalhos meus no blog como Emecê(cirandeira). Abraços

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  4. E aí Malcriado, gostei do carinha no giz de cêra, digamos compenetrado em si.
    Lembranças de outros tempos onde a simplicidade era tudo e o que ficou foram boas lembranças, isso é o que importa.
    Um retrato de um momento vivido.

    abraços.

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  5. E sempre o mais simples é o mais belo. Pois é fácil fazer coisas rebuscadas, o difícil é fazer o simples.
    Eduardo, você já é um artista consumado, daqui para a frente é aperfeiçoamento e é claro que daqui a 20, 30 anos vc vai rir do que faz agora. Mas, acredite, o que faz agora é muito bom.
    E desde já lhe aviso que esta obra simples e bela irá parar no meu Blog amanhã no meu novo post.
    Beijos,
    Renata

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  6. POIS É. E DE QUE MANEIRA...

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