segunda-feira, 4 de março de 2013

- Rosa Vermelha -

Acrílico sobre tela - 50 x 70 cm - 2012
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E finalmente vamos para o primeiro post do ano! Para ilustrá-lo, escolhi uma tela que fiz no fim do ano passado e que teve um bom resultado.  Eu já havia comentado em outras oportunidades aqui no "Arte por Parte" sobre minha disposição (ou indisposição) em fazer telas de temas florais. Talvez por ser um tipo de pintura que já virou lugar comum no mercado artístico informal e talvez a opção mais óbvia para todo iniciante em pintura. Apesar de não ser algo que me seduz em termos de produção, as vezes eu revisito este tema, quase sempre atendendo o apelo de alguns conhecidos. Justamente por ser algo que é muito apreciado, as vezes faço exatamente por saber que sempre vai ter interessados (afinal, sem dinheiro ninguém sobrevive).


Neste tipo de tema, eu procuro utilizar cores mais contrastantes e na maioria das vezes, bem vivas, quase sempre com a(s) flor(es) pintada(s) em meio ao seu habitat. Para isto, entra em foco um pouco do meu lado fotógrafo para buscar referências que sempre são necessárias. Para fugir do "lugar comum" deste tipo de pintura, eu tento mudar um pouco o foco, fechando o close o máximo possível dentro da flor, mas sem ultrapassar o limite de identificação da imagem, tentando seguir mais ou menos o estilo da artista norte americana Georgia O'Keeffe, também já citada outras vezes neste espaço. É claro que pintar a partir de fotografia tem vantagens e desvantagens, como todas as coisas no mundo. A vantagem é a óbvia comodidade de ter ali eternizado na sua frente algo que normalmente não dura tanto, o que é um grande auxílio para o desenho. Por sua vez, a desvantagem está no que se refere a cores, uma vez que seja revelado ou na tela da câmera ou do computador, as cores nunca são exatamente as mesmas como as percebidas pelos olhos humano... há algumas mudanças na gama, principalmente quando pintamos a partir de fotos reveladas/impressas. Cabe ao artista equilibrar estas diferenças através de sua própria paleta.

Georgia O'Keeffe em Santa Fé (foto de Tony Vaccaro para a revista Look, 1960)
Há alguns anos eu já havia pintado uma rosa, mas na ocasião a cor da imagem foi predominantemente amarelo e muito mais simétrica do que esta. Desta vez eu parti para o vermelho, que era algo que eu já pretendia fazer, mas que sempre fui adiando. O interessante da rosa é a sua simetria que segue um padrão perfeito, prato cheio para diversas áreas que estudam a proporção áurea, também conhecida como código Fibonacci, que prega que tudo na natureza segue em padrão perfeito traduzido matematicamente pelo número de ouro 1,618, como uma constante de crescimento. Na verdade, é um assunto um tanto complexo para explicar em poucas linhas e senão me engano, já comentei sobre ele aqui.

Neste caso específico, segui diversas fontes que fui mesclando numa única imagem. Carreguei no tom do vermelho e explorei bastante o claro-escuro... a intenção principal desta pintura, como em outras que faço deste tema, era a de causar no espectador a ilusão de imersão na rosa. O resultado superou as minhas expectativas iniciais, pois ficou bem profundo e expressivo. Nestes momentos de surpresa, é meio óbvio notar o quão interessante é perceber essa capacidade de expressão que as cores tem e o quanto elas podem ser exploradas. Depois de ver o quanto isto estava impregnado na pintura, decidi reforçar as partes mais claras (que naquele momento estavam um pouco opacas) com uma cor bem viva e quente, impressão que fica ainda mais acentuada pelo efeito claro-escuro.

Outro diferencial desta para outras pinturas minhas do tema está nos detalhes das gotas nas pétalas, algo que tornou a pintura mais próxima do real (e a deixou também um pouco mais distante do estilo Georgia O'Keeffe de flores). É interessante observar como um mero detalhe deixou a pintura com um ar mais comercial também... não sei ao certo se isto é algo bom ou ruim, mas tratando apenas da questão estética da coisa, acho que ficou bom. As gotas, apesar de sua aparência realista causar um bom impacto nas pessoas, elas são relativamente fáceis de fazer. A dica de ouro para isto é que o pintor aprimore o seu senso de observação, característica essencial para todos os artistas. Ele (o senso de observação) precisa estar sempre afiado para que seja possível alcançar bons resultados.

Ultimamente eu tenho explorado bastante as possibilidades da tinta acrílica, que é bastante versátil. Tem vezes, principalmente em partes onde há o degradê, a pintura se torna um pouco chata e trabalhosa, mas o resultado final geralmente compensa. Pela característica da tinta secar relativamente rápido (apesar de existir o retardador de secagem, que ameniza este problema) e a facilidade de ser a base de água, em certas partes da pintura a produção se torna quase uma aquarela.

Por mais que eu sempre coloque o tema floral à margem da minha escolha, vez por outra eu me deparo com alguma imagem que merece uma pintura e é justamente nessas horas em que a câmera se torna uma ferramenta muito útil. Por mais que eu relute em considerar produzir mais flores, eu sempre acabo revisitando este tema, algo que provavelmente acontecerá de novo.



Licença Creative Commons
Rosa Vermelha de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

4 comentários:

  1. Edu, "seu danado" :) por onde é que tens andado, que quase não apareces? Já sei: andas aprontando
    outras atividades, não é?
    Essa tua rosa vermelha está perfeita!, pra mim, a rosa vermelha é a mais bela de todas!
    E sabes do que mais? Gosto muito das pinturas da Georgia, da forma como ela transformava a natureza, ampliando-a, abstraindo-a. O trabalho dela é belíssimo!
    Olha, não some não, viu?

    beijão
    P.S.: desculpa, mas acho que existem outras formas de "provar que não sou um robô", essa é chatíssima :)

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    1. E aí, Ci!
      Pois então... tô meio sumido mesmo! Mas, como você bem disse, já tem um monte de coisa nova por aí. Realmente a Georgia é fantástica (inclusive, descobri recentemente que tem um filme sobre ela).
      Sobre a verificação dos comentários, só coloquei porque andou aparecendo um monte de spams por aqui nos últimos tempos... aí não teve outra saída!
      Valeu!

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  2. Rosas, Rosas, Rosas...rosas mimosas, são rosas de abril...(Dorival Caymmi)
    Saudade de ti, amigo Edu!
    Ainda volto por aqui. Beijos!

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  3. Atentei-me ao detalhe do "artista autodidata", até me animei... sem tive vontade de saltar do A4 e caneta bic para algo mais técnico, sobretudo para passar pelo processo de aprendizado que sempre abre novas possibilidades.
    Muito interessante, assim como a "Paulista com a Pamplona" de tempos mosaicos, hoje guardado apenas em registros como a sua arte.

    Muito bom!

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