segunda-feira, 17 de junho de 2013

- Crônicas Macaubenses - Fofoca -

Nanquim - 15 x 15 cm - 2012
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Dando continuidade a série de desenhos sobre Macaúbas que começou no mês passado, hoje o alvo é a fofoca. Quanto menor é a cidade, mais a vida alheia é o assunto da pauta. Se fulano se comporta fora dos padrões normais, de qual família pertence, se está saindo com alguém, se tem dinheiro ou não, se é inteligente ou comete muita gafe, qual a posição política e religiosa, enfim, a gazeta popular falada vive de plantão e muitas vezes este costume é passado de geração pra geração e quase sempre aumentam exponencialmente o fato. Em Macaúbas, especificamente, este comportamento já foi muito pior, mas a cidade tem crescido nos últimos anos e este costume já não é tão nítido, ainda que existam muitos reflexos por aí.


A boataria tem também os seus momentos mais férteis, que quase sempre são no período de São João, principal festa do calendário local, e em períodos de campanha política (principalmente municipal), tempo em que o falatório se mostra mais cruel e intenso. É até compreensível, considerando que o poder executivo municipal é o principal empregador, como já foi citado em posts anteriores. Mas basta alguém ter o descuido de encontrar pelo caminho com alguma passeata ou carreata do candidato x ou y pelas ruas (e ser notado) que ele já ganha o status de partidário. No campo pessoal, se um homem andar muito com uma mulher, não demora para que a situação seja considerada como um namoro ou caso extraconjugal (e este é o foco da arte de hoje). Se um homem (ou mulher) tiver uma amizade muito grande com alguém do mesmo sexo e andar demais com ele(a), muitas vezes aparecem comentários pejorativos sobre a sua orientação sexual.

É claro que é um traço cultural e antes de qualquer julgamento moral, é importante levar em conta o desenvolvimento local para que isto se estabeleça. Outro fator importante que faz com que este costume seja maior ou menor, além do desenvolvimento local, é a distância da cidade para os grandes centros. Quanto mais distante de cidades maiores, mais frequente é a fofoca. A imagem ilustra uma situação que, ainda que tenha sido inventada, ocorre com alguma frequência, como já tinha comentado anteriormente. O casal que conversa descontraído acaba se tornando o centro das atenções de todos os outros personagens da cena, que voltam seus olhos para eles. A imagem se passa na Praça Imaculada Conceição, praça matriz e marco zero da cidade. A expressão dos personagens foi bastante trabalhada, ainda que o desenho não seja tão grande, o que dificulta um pouco mais trabalhar com isto.

Reprodução de uma das ruas principais do centro de Macaúbas

Refletindo um pouco sobre o assunto "fofoca", é difícil transferir a culpa integral apenas para a população local. Somos o resultado de uma somatória de influências, afinal de contas. É interessante porque não é muito difícil perceber que as cidades, assim como são com as pessoas, também acabam ganhando um traço de personalidade, com características bem marcantes que diferem de uma outra localidade vizinha, mesmo que a distância seja bem curta. A fofoca, na verdade, é uma influência que vem de cima. A sociedade brasileira é bombardeada por novelas e por um mercado bem rentável que é alimentado por fofocas sobre a vida de celebridades. As novelas acabam influenciando as pessoas mais simples, que sem os necessários "anticorpos culturais", acabam tratando a fofoca como uma coisa absolutamente natural, afinal, o que é a novela senão uma fofoca ficcional? Quem assiste não sabe da vida de todos os personagens? Vigiar a vida alheia, através dos reality shows ao vivo (como o infame programa global "Big Brother Brasil") não é uma espécie de programa que visa a fofoca midiática? São perguntas que precisam ser levadas em conta. Nada mais natural que a população das cidades menores reproduzam para a vida real o que vêem na TV e desde que éramos crianças as novelas ocupam o horário nobre da programação televisiva.


Licença Creative Commons
Crônicas Macaubenses - Fofoca de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

2 comentários:

  1. Muito interessante esse teu post, Edu. A fofoca existe desde sempre, nas pequenas e nas grandes cidades, também. Nestas, devido o corre-corre, o enclausuramento das pessoas em seus apartamentos, tem-se a impressão de não existir. Mas é apenas uma questão de oportunidade. É claro que há também uma carência
    de lazer, de atividades culturais, enfim uma "falta do quê fazer", não é? A fofoca acontece predominantemente nas pequenas cidades, é um comportamento bem provinciano, e às vezes chega às raias da crueldade!
    Ficou bem mais interessante com as tuas ilustrações. Parabéns!!!

    beijoss

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    1. Oi Ci! Realmente é assim mesmo... a fofoca faz parte de todas as esferas da sociedade. A única diferença mesmo é que nas cidades menores conseguimos enxergar nitidamente a sua forma. Valeu!

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