Mosaico - 3 x 7,5 mts. - 2012
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No começo deste ano, o colégio CETEP - Centro Territorial de Educação Profissional da Bacia do Paramirim - teve a iluminada ideia de fazer uma intervenção artística nas suas depedências, retratando cenas históricas da cidade de Macaúbas. O projeto consistia em criar três grandes painéis em mosaico feitos com restos de azulejos descartados. Grande parte deste material seria coletado em canteiros de obras pela cidade e / ou adquiridos através de doação pelas casas de materiais de construção, fazendo desta forma uma obra de arte com material reaproveitado. No início, a direção da instituição ainda não tinha uma ideia estabelecida do que seria... havia a dúvida se o trabalho seria uma pintura ou um mosaico mesmo e eles me procuraram para discutir o assunto, tirar suas dúvidas e me convidar para a confecção de um dos painéis e articular uma conversa com outros dois artistas locais para a confecção dos outros dois e, mais tarde, assumir a coordenação do projeto. No final, ficou decidido que seria mesmo um mosaico e o desafio foi lançado.
Fachada do CETEP |
Foto do capitão Porfírio Brandão, extraída do livro "O Capitão que Desafiou o Império" de Alan José Alcântara Figueiredo |
Batalha de Boyacá - Martin Tovar y Tovar |
A execução do trabalho ficou a cargo dos alunos do 4° ano dos cursos técnicos em meio ambiente e edificações, acompanhados por mim e pelo professor Teotônio da Silva Ferreira. Alguns detalhes causaram um pouco de dor de cabeça e em outros, um pouco mais complicados como a produção dos rostos dos personagens, ficou sob a minha responsabilidade na hora de fazê-los, mas os alunos se saíram muito bem no final. O grande destaque do trabalho foi a matização feita na serra e no céu. O colégio também explorou bastante os temas retratados dentro das salas. Um bom exemplo que atualmente está sendo colocado em prática foi a divulgação de uma pequena história em quadrinhos contando de forma bastante resumida e didática o ocorrido em 1878.
Alunos do CETEP durante a execução do início do painel |
Inauguração do painél no dia 07 de setembro de 2012 |
Mosaicos do interior da Basílica de Santo Apolonio Novo, Ravena - Itália |
História em quadrinhos produzido em parceria com os alunos, contando o ocorrido em 1878 Clique nas imagens para ampliá-las. |
E abaixo, segue a crônica sobre o ocorrido em Macaúbas por Machado de Assis.
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"A vida oferece singulares mutações à vista. Não há imaginação de dramaturgo nem arte de maquinista que as faça mais súbitas nem mais complexas. O grande mestre é exímio nesses saltos violentos; passa de uma tenda na Síria à galera de Pompeu, e do jardim de Capuleto à cela do pio frade. Não é ela o asno ordeiro e regrado, que obedece às posturas e ao chicote; é o cavalo de Jó, impetuoso como o vento. Pois nem Shakespeare era capaz de imaginar coisa análoga ao caso de Macaúbas.
Com efeito, um homem, um capitão, o capitão Porfírio, era ali há meses delegado de polícia; hoje investe às fazendas à frente de um grupo de homens armados. Tem-se visto náufragos de virtudes; mas o caso do capitão Porfírio é diferente de um naufrágio; é pescador que passa a fazer ofício de tubarão. O relatório oficial, agora publicado, é positivo, claro, minucioso; conta as aventuras do capitão com a seca singeleza de um relatório. Vê-se o ex-delegado opondo-se a ceder o lugar ao sucessor, ajuntando gente, abrindo a cadeia, voltando a Macaúbas, sitiando casas, travando combates, ferindo, ensangüentando, fugindo, enfim para iniciar outra profissão, que é justamente o contrário da que exercera até há pouco.
O romantismo deu-nos alguns casos de homens que se desligavam da sociedade por motivo de amor; mas, por motivo de uma vara policial, só a realidade era capaz do invento. Defender o código em novembro e desfeitá-lo em março, abraçar a lei na quinta feira e mandá-la a tábua no domingo, e isso sem gradação, mas de um salto, como se muda de sobrecasaca, é um fenômeno curioso, digno da meditação do filósofo.
Porquanto, não consta que o capitão, durante o exercício da delegacia, deixasse de cumprir os seus deveres policiais, perseguindo os malfeitores; donde se poderia inferir que não era uma vocação subjugada. O ex-delegado aterrava os gatunos e faquistas, devassava as casas de jogo, encarcerava os criminosos, punia os maus, salvava os bons, tal qual o quinto ato de melodrama. Nunca jamais lhe descobriram tendência de talar quintais alheios ou pôr em riscos a vida do próximo. Comia de seus próprios cambucás. Pode ser que devastasse algum coração e matasse muitas saudades; mas fora esses pecados veniais, não previsto no código, o capitão Porfírio foi sempre um modelo de virtudes policiais e humanas. Macaúbas vivia à sombra de uma administração pacífica; o seu nome era inteiramente desconhecido nos conselhos da Europa. Que importava a Macaúbas as convulsões do século; vivia como um rebanho aos pés do seu pastor, único e bom, que, jogava era gamão, com o padre Vigário ou o farmacêutico da vila, matar as horas e nada mais. Tal era o distrito; tal era o delegado.
Vai senão quando, chega a Macaúbas a notícia da mudança política de janeiro último. Naturalmente houve regozijo de um lado e consternação de outro; é a ordem das coisas humanas. O capitão Porfírio que era somente delegado, não filósofo, e menos ainda político, não soube cair com sisudez e graça; sentia morder-lhe o coração alguma coisa semelhante à cólera romana; e disse consigo que não entregaria o poder nem ao anjo Gabriel. Daí a complicação, a batalha e a recente vocação do capitão Porfírio.
Ora, o que não disse o relatório submetido ao governo, que talvez escapou e escapará a mais de um leitor desatento ou incrédulo, é que a alma do capitão Porfírio é nem mais nem menos a alma de Coriolano, transmigrada; descoberta que explica o procedimento do herói de Macaúbas. Coteje o leitor o relatório com o livro de Plutarco; verás as semelhanças dos dois capitães. Porfírio irrita-se com a ameaça de perder a delegacia. Coriolano por não ser eleito cônsul; ambos inflexíveis e ásperos, não podem suportar friamente a injúria. Um é demitido, outro banido; um e o outro vão armar gente e invadem Roma e Macaúbas.
Isto posto, tudo se explica; e o que parecia absurdo, é simplesmente natural. Desde que Porfírio não é Porfírio, mas sim a alma do famoso herói, que transmigrou de corpo em corpo, até meter-se na pele do ex-delegado, cessa todo o motivo do ódio e toda a causa do pasmo. Um delegado, que depois de ensangüentar o seu distrito, para não entregar a vara policial, vai entreter os ócios em talar as fazendas alheias, é tão absurdo, que passa de cruel a ridículo; mas se o delegado não faz mais do que repetir Plutarco, - acomodá-lo ao menos aos nossos costumes; se ele não é ele, mas outro, que não é outro, então demos graças aos deuses, que nestes tempos de vida pacata nos consentem uma nesga de céu heróico, uma ressurreição do antigo brio.
A única diferença entre as duas formas do célebre herói é que a segunda acaba um pouco menos heroicamente do que a primeira, e, se for capturado achará, em vez de Plutarco, um escrivão. Coisas do tempo. O Coriolano de Macaúbas sabe que não achará prontamente um aliado estrangeiro, como o de Roma, e sabe que em um século industrial, atacar fazendas é ferir o coração da sociedade; daí, essa diversão pelos estabelecimentos agrícolas, levado de um sentimento vingativo, romano e gastronômico."
MACHADO DE ASSIS. In.: Obras Completas – Crônicas – 4º vol. – tomo 2. W. M. Jackson inc., 1970.
Créditos das imagens: CETEP, Google Imagens e fotos próprias.
Créditos das imagens: CETEP, Google Imagens e fotos próprias.
"A invasão da vila de Macahúbas" de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Oiiiiiiiiiii, saudades. Obrigada pela visita, parabéns pelo projeto, adorei o mosaico, imagino quanto trabalho vc teve neste belo painel. Ficou incrível. Parabéns a todos pelo projeto.
ResponderExcluirBjs,
Cris
Ah, Edu querido, eu já conheço teus sumiços, rs. Mas quando apareces, olha só! Só dá arte e projetos incríveis.
ResponderExcluirObrigada por tua amizade e carinho,meu super amigo! Beijão!
Tenho um sonho de um dia poder conhecer essa cidade. Meu saudoso avô José Porfírio de Almeida, filho de Porfírio José de Almeida era de Macaúbas e contava muitas histórias desse lugar. Um dia vou aí.
ResponderExcluirClóvis de Almeida Matos
Mato Grosso
Oi, Clóvis! Venha mesmo e, se vier, aproveite para ver o painel que o colégio tem o maior orgulho em mostrar.
ExcluirAté!
Minha Avó, Jandira Costa Brandão, faleceu aos 92 anos no mês de dezembro de 2013, ela era casada com Meu Avô Manoel de Souza Brandão que era neto do Capitão Porfírio Brandão. Estas histórias, relatadas no seu blog, eu tenho ouvido de minha avó desde que era menino, preciso de saber como comprar esse livro e saber se temos outros descendentes do Capitão Porfírio Brandão em Macaúbas. Meu Nome é Flávio Brandão e agradeço qualquer informação.
ResponderExcluirOlá, Flávio! O Capitão Porfírio Brandão tem muitos descendentes, sim. Os que vivem em Macaúbas (grande parte na comunidade de "Brejo Capitão Porfírio") até hoje ficam um pouco receosos quando desconhecidos tocam no assunto (por medo de alguma vingança tardia). Inclusive, no dia do lançamento do livro, muitos vieram de cidades próximas para prestigiar.
ExcluirSobre a aquisição do livro "O Capitão Que Desafiou o Império", sugiro que você mande um e-mail para o autor (entre em contato comigo que eu te repasso o e-mail do Prof. Alan), que tenho certeza que ele terá a maior boa vontade em atendê-lo.
Até mais!
Olá Eduardo! Meu endereço no facebook é: Flávio Brandão de Iguatu Paraná. Recorte e cole meu nome ali que vai ser fácil me achar. Meu e-mail: flavioiguatu@hotmail.com. Gostaria de ter seu contato no facebook pra gente falar em particular, fiquei muito curioso quando você disse que muitos ficam receosos em falar no Capitão Porfirio Brandão. Olha minha Avó falava que o Capitão Porfirio tinha um filho chamado Manoel Brandão que enfrentou sozinho muitos policiais. Fico no aguardo do seu contato. Att, Flávio Brandão.
ExcluirMinha vó é bisneta do Porfírio
ExcluirOlá meu nome é Daize , meu avó nasceu aí em Macaúbas, eu gostaria de saber se ele tem alguns parente aí o nome dele é Avelino de Souza Neto.ele tem 94 anos, ele disse que teve que saí dai, por causa de uma seca que acabou com o sertão, ele se mudou para santa Maria da vitória Bahia. Agradeço se alguém souber dar alguma informação sobre esse período.
ResponderExcluirOlá, Daize! Vou procurar com algumas pessoas por aqui se algum deles conhecem o seu avô. Você sabe onde ele morou aqui ou algum outro dado que possa facilitar mais?
ExcluirAté!
Parabéns, Jr. brilhante trabalho. Você faz a diferença na educação macaubense. Sou testemunha ocular de seus trabalhos.
ResponderExcluirSou neto de Elvira Brandao e Claudio Marques q eram primos entre si, meu tio Orlando Brandao Marques contou p meu pai esta historia do Capitao Porfirio, tambem tenho um tio falecido ha 3 meses chamava Porfirio Brandao e era nascido ai em Macaubas e c c familiares em Rio do Pires. se alguem pode ajudarme a fazer a arvore genealogica de nossa familia, gostaria muito, meu face : David Marques Pereira. ( sou pesquisador pela UFMS sobre Indigenas Guarani Kaiuás e fiz palestras sobre Indios do Brazil e Direitos Humanos (humans Rigths) na Universidade de Washington em 2016.
ResponderExcluirOlá, David! Eu particularmente não posso te ajudar neste ponto (da árvore genealógica), mas há muitos Brandão por Guanambi, Caturama e Macaúbas e acredito que é provável que algum deles se prontifiquem em te ajudar neste ponto (ainda que por causa do histórico do Capitão Porfírio, muitos ainda hoje fiquem cismados com pessoas perguntando sobre o passado, no receio de ser algum descendente de alguma vítima das ações dele).
Excluirok obrigado!!! muito bom!umdiairei la!
ExcluirO capitão era meu tataravô
ExcluirMinha bisa e filha dele está viva ainda
ExcluirQue belo trabalho Eduardo Cambuí agora estou vendo mas não podia deixar de expressar minha alegria por coisas assim em nossa querida Macaúbas que se engandesce com seus filhos.
ResponderExcluirNossa cidade é um diferencial de paz alegria e muita coisa bonita por essas e outras
Parabéns
Obrigado e fico muito feliz que esta publicação tenha agradado.
ExcluirBoa Noite ! Como amo minha cidade Natal. Muitas Historias que não sabia, agora que estou fazendo minha arvore genealógica que fui descobrindo sobre os marcos da cidade. Meu trisavô era Presidente da Câmara nessa época, Nicolau Tolentino Vaz, casado com Guilhermina. Será que houve alguma coisa com eles nessa época, não achei nenhum documento deles, apenas uma agenda de Nicolau, ele ate menciona essas pessoas contadas nos relatos, ele fala do dia que esse pessoal chegou em macaúbas. Se alguém souber algo sobre o assunto, se poder me chamar no Whtsap, 33 984376676. Muito Interessante. Parabéns pelo Blog.
ResponderExcluirEu conheço a história e é muito longa seus filhos moram no Juazeiro de macaúbas
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