segunda-feira, 30 de maio de 2016

- Cena de Macaúbas -

Giz pastel oleoso - 13,5 x 21,3 cm - 2015
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Na publicação "Vista da Igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição" eu tinha comentado sobre retratar cenas locais pouco usuais visando lançar um olhar mais universal sobre o tema (e muito provavelmente eu também já tenha tocado neste mesmo assunto em outros posts antigos). Pois é justamente o que a arte de hoje pretende transmitir. Nestes casos, os lugares que são retratados não importam tanto, sendo que o objetivo principal acaba sendo o de passar uma determinada sensação e/ou uma experiência estética. Mas é importante lembrar também que, obviamente, ao retratar um determinado lugar a arte em questão também ganha um aspecto documental conforme o passar do tempo.


O processo artístico

Sempre que eu saio por aí, inevitavelmente fico atento ao que me cerca, de olho nas coisas que podem me servir como uma referência para futuros trabalhos. Quando percebo algo do tipo, tiro algumas fotos para usar depois. Com essa prática, acabei criando acidentalmente um "banco de dados" considerável, o que me facilita bastante na hora de decidir o que fazer ou quando preciso de alguma referência mais específica para compor melhor um trabalho, como já comentei um monte de vezes neste site. É importante lembrar para aqueles que queiram começar este mesmo costume que não é preciso necessariamente viver num lugar deslumbrante para conseguir boas fotos... muitas vezes consigo boas fotos no quintal de casa, na rua, enfim, basta estar atento.

Este desenho na verdade retrata um lugar banal. Observando a atitude dos outros, chego até mesmo a acreditar que muito poucas pessoas que vivem em Macaúbas se dão conta da beleza do entorno da cidade. Este local específico do desenho, fica bem na entrada da cidade. De uns tempos pra cá, tenho dado muito mais atenção para a produção de esboços mais elaborados antes de partir logo para uma pintura em tela, o que ajuda bastante quando decido que é o momento de realizar a pintura. Por estes desenhos, consigo visualizar melhor onde concentrar mais atenção, pontos que posso trabalhar mais, ou seja, funciona mais ou menos como um mapa para chegar onde quero.

Para isto, escolhi trabalhar com o giz pastel oleoso que é um material muito bom de trabalhar, com cores vibrantes e, mesmo que faça alguma sujeira, proporciona resultados muito bons. Inclusive, trabalhar com o giz neste desenho me fez perceber que ironicamente eu não tenho tantos trabalhos feitos com este material, algo que venho repensando desde então.

Referências

É quase que impossível (para mim, ao menos) falar de giz pastel e não me lembrar logo de Edgar Degas. Talvez seu problema de visão tenha sido um fator importante para que o artista optasse pelo giz pastel num certo ponto de sua carreira. Em 1870, a guerra Franco-Prussiana fez com que alguns artistas franceses se refugiassem em outros países (caso de Monet e Pissarro), em outros despertou sentimentos nacionalistas fazendo com que ficassem no país e em outros, fez com que abraçassem a causa e se alistassem (como Bazille, que acabou morrendo em combate).

"Diante ao espelho" (giz pastel seco) de Edgar Degas
Degas foi um dos que se alistaram na Guarda Nacional para defender Paris do avanço prussiano. Mas logo no início do seu ingresso no exército, teve detectada nos exercícios de tiro uma doença ocular (nos livros que já li sobre Degas, nunca falam exatamente qual doença foi essa) que foi progredindo gradualmente até a cegueira nos últimos anos de sua vida. A guerra em questão foi crucial para a unificação alemã, culminou na queda de Napoleão III e da monarquia na França e o surgimento da Comuna de Paris (que durou praticamente dois meses), que era contra a rendição da França para a Prússia. Voltando ao problema de visão do artista, com o tempo o traço de Degas se tornou menos preciso e o obrigava a reduzir sua produção artística, mas o favoreceu para voltar a explorar a escultura, prática que ele tinha começado antes da guerra franco-prussiana. Suas obras em giz pastel são muito famosas e mostram um pouco da versatilidade do artista.

A Obra

Gostei muito do resultado deste desenho. As cores ficaram muito intensas, consegui um efeito muito bom de luminosidade da atmosfera e criar uma sensação de tranquilidade, típica do ambiente em questão. Pode até ser que este desenho me anime a pintar uma tela com o mesmo tema, buscando uma forma similar de retratar o ambiente com a tinta. Como eu tinha comentado mais acima, este resultado me fez rever a prática de desenhos em giz pastel, que comecei a olhar com mais atenção e que tentar publicar por aqui, gradativamente, os novos frutos que geraram, sem muita pressa.



Licença Creative Commons
"Cena de Macaúbas" de Eduardo Cambuí Junior está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em http://www.arteporparte.com/p/contato.html.

5 comentários:

  1. Pois bem, esse quadro provocou-me um desejo de entrar nele, e sentar-me
    debaixo da árvore, ficar por algumas horas sem fazer nada, sem pensar em
    absolutamente nada! Amei, Edu, Macaúbas é tão bonita, tão bucólica...!

    Beijos

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    Respostas
    1. Oi Ci! Sabendo da sua sensação, acho que atingi o meu objetivo ao fazer este trabalho, que era justamente despertar esta sensação nas pessoas. Tem partes de Macaúbas que realmente são muito bonitas!!

      Bjão!

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