terça-feira, 16 de abril de 2013

- Os retoques -


Matisse em ação
Na pintura em tela, nem sempre é muito simples dizer quando a pintura está finalmente pronta. Algumas vezes, ao final de uma pintura, achamos que o resultado está como queríamos e que não é preciso mexer mais em nada, mas numa olhada mais criteriosa e atenta, acabamos achando algo que poderia deixar o trabalho ainda melhor... o problema é que nem sempre isto acontece logo em seguida! Às vezes, se passam anos. Quando a melhoria da pintura depende apenas de pequenos retoques, normalmente estes são feitos na própria pintura, mas quando esta melhoria depende de uma mudança na estrutura do desenho, não tem outro jeito senão pintar outra tela.
Detalhe de "Lampião", que foi retocada
Tem vezes que uma pintura é produzida em caráter experimental, como estudo, ou mesmo sem essa característica, mas que com o tempo o pintor julga que não tem mais razão de ser e alguns pintam por cima (É claro que não são todos os que fazem isto). Normalmente, muitos preservam os antigos trabalhos, seja presenteando parentes e amigos ou até mesmo vendendo, quando surgem interessados. De fato, conforme o tempo passa e ganhamos experiência na pintura, o nosso senso autocrítico fica cada vez mais exigente (algo que é necessário ser alimentado), o que é uma coisa muito boa, pois acaba garantindo melhores resultados em futuras produções.

Diferentes versões da Catedral de Rouen, por Claude Monet
Na história da pintura, grandes artistas fizeram diversas telas sobre o mesmo tema ou pintaram por cima de antigos trabalhos. É claro que para pintar sobre uma outra pintura é preciso alguns cuidados básicos especiais como a escolha da tinta adequada e o processo da nova pintura. Só para citar alguns exemplos na história, existem casos muito conhecidos sobre revisitar o mesmo tema na pintura como das telas sobre a Catedral de Rouen por Claude Monet, que pintou o tema em diferentes horários e épocas do ano para captar as mudanças nas tonalidades. O holandês Rembrandt também costumava pintar por cima de pinturas antigas... como não era rico, sempre que faltava tela (seja para ele ou para seus alunos) ele escolhia alguma pintura sua que, por qualquer motivo particular do próprio artista, não julgava mais adequado e pintava por cima. Estas telas vem sendo descobertas de uns anos pra cá através das modernas técnicas  forenses que se utilizam até de Raio-X.
Auto retrato de Rembrandt, que ficou muitos anos escondida debaixo de outra pintura de um artista anônimo
A decisão de publicar este post veio da observação de algumas pinturas antigas que já foram publicados aqui e que sofreram mudanças depois e já não estão como quando foram publicados. É o caso de "Flora Macaubense", que passou por uma intensa reformulação. Depois de algum tempo de pintado, fui percebendo que faltava mais cores na tela e resolvi intervir. Foi praticamente uma re-pintura... mudei a cor do fundo, mudei a cor dos caules, acentuei o contraste das flores, enfim, a tela ganhou um pouco mais de vibração.
"Flora Macaubense"
Outra mudança feita em telas do meu acervo aconteceu em "Lampião". A tela, originalmente feita com pouquíssimas cores, todas neutras, ganhou mais tonalidades, destaques em cores mais fortes para partes da roupa e acessórios do cangaceiro, mais alguns pequenos detalhes que foram acrescentados e que tornaram esta tela praticamente numa nova pintura, muito mais viva.
"Lampião"
Sobre as pinturas que foram feitas sobre outras, algumas já foram anteriormente publicadas aqui, como foi o caso de "Rua Vermelha, n° 53", apenas para citar um caso. Este artifício, como já comentei acima, não é regra e depende muito de cada cabeça. Naturalmente, muitas pinturas que fazemos enquanto estamos no início do processo de aprendizagem da pintura, não saem da forma como desejaríamos e ele acaba se tornando um alvo preferencial para esta prática. É claro que, caso resolvam partir para uma medida drástica como esta, é preciso que seja feito algum registro fotográfico antes de passar por cima com outra imagem para que ela não se perca na memória. Ou, caso o espaço para guardar as telas não seja um problema, que guarde-as e depois refaça o mesmo tema em outra tela, corrigindo o que não saiu bem da primeira vez.

4 comentários:

  1. muito boa essa postagem, meu amigo...
    quando eu pintava, sempre achava que algo poderia ser acrescentado ou corrigido...
    em meu conceito, eu pensava sempre: vendi uma tela inacabada o que ainda precisava de alguns retoques...
    acho que isso acontece com todos nós...
    a vida de um artista é fogo... rsrsrs...
    beijos em teu malcriado coração, eduardo...

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    1. Então Beto... esse tormento acho que é comum de todo mundo que faz arte. Sempre achamos alguma coisa que poderia ser melhor!
      Valeu!

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  2. Amei sua postagem e concordo, apesar de não trabalhar em telas, mas somente em papel, e é verdade todos que trabalham com arte provavelmente esconde em si seu proprio juíz.
    Abraços,
    Cris

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    1. Cris!
      Já cheguei a conclusão que essa é a maldição do artista!
      Valeu!

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