Acrílico sobre tela - 70 x 60 - 2013
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Pintar aves é algo que não é novo para mim e o resultado costuma ser muito bom, algo que se manteve nesta pintura. Deste mesmo tema, já houve outras pinturas como "Sofrê", "Gralha Azul" (o único que fiz que não pertence a fauna local), "Vida Silvestre", "Garça Branca" (ainda não publicado por aqui), entre outros que visitaram o tema de forma indireta. Já tinha dito aqui em outras oportunidades que sempre tive em mente fazer uma série de pinturas em tela sobre animais da fauna local e isto vem amadurecendo aos poucos. Talvez eu até já esteja fazendo esta série sem me dar conta disto, já que minhas últimas pinturas tem sido sobre este tema.
De uns tempos pra cá eu venho repensando a minha forma de pintar, como já havia comentado por aqui. Muitas das minhas pinturas tendem para o lado do realismo quase fotográfico, mas ao mesmo tempo tento fugir desta característica (afinal, hoje a câmera fotográfica está mais acessível do que jamais esteve) e a expressão na pintura deve ser mais importante, ao meu ver, do que se a pintura é quase uma foto ou não. Nesta busca por uma maior expressão, que ainda está num processo de amadurecimento, parti para a pintura desta tela em particular usando do mesmo artifício de antes atendendo a um pedido especial. Há pouco mais de três meses ingressei finalmente no time dos casados (sem pompa e nem alarde) e a minha esposa tem explorado bastante os benefícios de viver com um artista, o que significa que ela pode decorar a casa com diversas pinturas e esta de hoje foi um caso.
Um flagrante do tímido Saruê |
A composição da tela foi uma parte importante do processo. É interessante destacar para quem está começando agora no mundo da pintura o quanto as cores sofrem influências das outras mais próximas. Numa tela branca, qualquer cor um pouquinho mais escura ganha destaque e isto algumas vezes se torna um problema, porque temos a tendência de achar que está muito escuro (ilusão causada por conta do branco da tela), coisa que muda assim que colocamos uma cor mais escura próxima. Para ilustrar melhor tudo isto, fiz esta imagem ao lado como exemplo de quanto uma cor parece mudar totalmente apenas com a influência da cor vizinha... o azul claro que está no meio dos blocos é exatamente o mesmo, mas quando está entre os blocos marrons, o azul claro até parece ser branco numa rápida olhada... se ao invés deste marrom, a cor fosse mais escura (como um preto), a ilusão seria ainda mais eficiente. Isto aconteceu com o céu, que numa primeira olhada parece puramente branco, mas que "esconde" uma gama de cores como o violeta, rosa e azul.
As folhas secas da árvore e seus galhos ganharam mais destaque na ilusão da textura. Acho que o mesmo pode ser dito da plumagem das aves. O resultado final foi bem interessante e acredito que alcançou o seu propósito, que era transmitir a cumplicidade do casal de pombos e passar um ar de serenidade do ambiente para quem observa, sensação esta que exploro bastante nas minhas pinturas (ou tento). Provavelmente ainda vão surgir outras pinturas de pássaros no meu currículo, já que felizmente eles existem em fartura por aqui nas mais diferentes espécies e cores, além de uma série de curiosidades que acabamos notando sobre o comportamento desses animais... por enquanto, estão na fila de espera para quando a vontade de revisitar o tema bater à porta.
Ilustração de Descourtilz |
A propósito, falar de pintura de aves remete a um pintor em especial: João Teodoro Descourtilz. No período da vinda de Dom João VI e sua corte ao Brasil (fugindo dos exércitos de Napoleão Bonaparte), muitos pintores franceses também vieram para o país e influenciaram bastante a cena cultural da época, fundando mais tarde a Academia de Belas Artes. Este grupo acabou sendo conhecido como a Missão Artística Francesa, seguindo padrões do neoclassicismo vigente na Europa naquele período. Destacaram-se importantes nomes como Taunay e Debret. Nessa época (em 1826), Descourtilz desembarcou no Brasil e ficou conhecido por suas pesquisas geológicas, entomológicas e principalmente, ornitológicas. Fazia anotações dos costumes das aves de forma livre, acompanhadas sempre de belas ilustrações de cada espécie.
Casal de Pombos de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Casal de Pombos de Eduardo Cambuí Junior é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Tuas postagens são muito interessantes, porque não se limitam a uma apresentação de tuas telas. Os textos são como uma aula, um espetáculo à parte. Gostei muito dessa tua postagem, Edu!
ResponderExcluirbeijoss
Oi Ci!
ExcluirQue bom que gostou... a ideia é justamente fugir um pouco do narcisismo de apenas expor o próprio trabalho e mostrar tudo o que está atrelado ao processo artístico, como as referências e as "manhas" que a gente vai aprendendo ao longo do tempo. Acho que assim fica até mais interessante, principalmente para quem não é artista.
Valeu!
Que lindo, amei! Adoro a sua arte! :)
ResponderExcluirValeu, Yaninha! Um incentivo e tanto saber isso!
ExcluirBjo