quinta-feira, 19 de setembro de 2019

- Memórias -

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A arte desta publicação de hoje foi o resultado para a capa de mais um disco, desta vez do músico Filipe Moreno, contrabaixista macaubense que lançou seu terceiro álbum. Acho que foi no fim do ano passado, ele começou a seguir o meu perfil no Instagram, até que um belo dia ele veio falar comigo sobre esta possibilidade, explicando mais ou menos o que tinha em mente. Assim como aconteceu com o disco Xaxim, precisei dar ainda mais asas à minha imaginação, conhecendo sua música e tentando assim, passar o que eu tinha assimilado para uma arte que tentasse de alguma forma traduzir o que o músico tinha em mente. E assim, nasceu esta imagem que acabou sendo muito bem recebida pelo Filipe. 

O processo artístico

Como já havia comentado por aqui anteriormente, de uns tempos pra cá tenho dado mais atenção ao Instagram quando se trata de publicar minhas novas produções, até porque é mais rápido (e os textos que escrevo por aqui demandam um pouco de tempo), tem maior integração com outras pessoas entre algumas outras vantagens, o que acabou me deixando um pouco mais relapso com o Arte por Parte (mas estou revendo isto e prometo tornar as atualizações mais frequentes). Através das publicações por esta plataforma, conheci diversas pessoas (sejam artistas ou não) e como adiantei acima, entrei em contato com o Filipe Moreno.


Ele buscava para a capa do seu disco uma imagem de impacto, nos moldes da arte fantástica, mas que também tivesse relação com a proposta do disco, que logicamente ele me contou do que se tratava, ouvi algumas músicas dele e desta vez, uma ideia surgiu logo na minha mente. O disco “Memórias” era um passeio do artista por suas origens, revisitando suas lembranças musicais de infância, de suas raízes… entendi que era quase como se fosse possível ouvir um álbum de fotografias de família. Sendo assim, já que o foco principal aqui eram as raízes do Filipe, achei que a simbologia mais adequada seria a de uma árvore, que logicamente teria de ser de uma espécie típica da sua terra natal (Macaúbas/BA). Mas uma árvore por si só não seria o suficiente!


Com esta constatação em mente, após refletir um pouco sobre isto, acabei resgatando uma imagem da minha infância… me lembrei que quando eu era menino, meu pai comprou um desses quadros prontos para decorar a nossa casa. Era um pôster enquadrado de uma foto de cena de campo, com uma casa rústica sob a sombra convidativa de uma árvore, que deixava transparecer levemente o brilho do sol por entre suas folhas. O que fazia daquele pôster interessante era que no meio dos galhos da árvore, era possível reconhecer a forma de um rosto masculino barbado, numa posição destacada central e que provavelmente, talvez nem o próprio fotógrafo tenha se dado conta no momento da foto. Como era de se esperar, o tal quadro acabou se tornando uma atração à parte para os amigos e parentes que nos visitavam e logo foi renomeado como “o rosto de Cristo no meio das folhas”. Tinha aqueles que conseguiam ver não apenas um, mas três rostos, em posições diferentes. Era o clique que me bastava: fazer no desenho da árvore do disco, a forma do rosto do músico.

Era uma simbologia forte e que provavelmente faria com quem estivesse diante da capa do disco pela primeira vez, olhar para ela com mais atenção ao perceber a imagem “subliminar”. Combinava perfeitamente também com uma leitura de que os galhos da árvore que forma o rosto era como se fossem elementos isolados de sua formação que, combinados, tornaram possível ser quem ele era atualmente. Para o cenário de fundo escolhi retratar de uma forma genérica, alguma estrada da zona rural de Macaúbas num período de seca, reforçando a ligação do músico com sua terra natal, sob um ambiente quente, mas convidativo.

Referências

Além da referência específica da foto do quadro que contei mais acima e que infelizmente foi deteriorada numa mudança e hoje já não existe mais (e que também não faço a menor ideia de quem seja o seu autor), a referência imediata para este tipo de forma de criar a imagem vem dos surrealistas e logicamente de seu ícone máximo, o espanhol Salvador Dalí, que adorava criar imagens que, vistas de longe e combinadas com outras, formava uma imagem maior. É bem interessante (e divertido) brincar com este tipo de composição e naturalmente se torna um atrativo importante, mas não é exatamente uma novidade no meu trabalho, uma vez que já fiz coisas similares em outras oportunidades, como por exemplo, em Ascensão de Cristo, onde o título sugere uma coisa e a imagem imediata sugere o oposto, até o observador se dar conta que há na composição partes disfarçadas que reforçam o sentido do título.
Obra de Salvador Dalí

A Obra

O resultado final da arte foi de acordo com o que eu pretendia e, o que era o mais importante, agradou o Filipe, que ficou bastante empolgado com o resultado. Ilustrar capas de discos (este foi o meu segundo trabalho neste sentido) é um grande desafio porque além de exigir que você capte a mensagem do músico, pede que você também passe uma mensagem forte que esteja atrelada ao conteúdo do disco e nem sempre isto funciona muito bem. Logicamente que o mesmo princípio serve também para ilustrar capas de livros, etc.

Sobre o álbum “Memórias”, é um belo trabalho de um músico virtuoso, muito promissor e que acredito sinceramente que ainda tem muito a conquistar em sua carreira que está apenas iniciando. O disco conta ainda com participações muito especiais de músicos consagrados, entre eles a Leila Pinheiro e Yamandú Costa. Para quem se interessar, o disco está disponível nas diversas plataformas digitais.




Imagem da obra de Salvador Dali: Google
Foto de Filipe Moreno: Site do artista

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Licença Creative Commons
"Memórias" de Eduardo Cambuí Junior está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em https://www.arteporparte.com/p/contato.html.

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