Como uma forma de sair da mesmice do narcisismo das minhas obras, "meu" isso e "meu" aquilo (nada mais chato que toda hora ouvir um mala falando de si), criei o "filosofando na maionese", onde coloco temas delicados com perguntas cabeludas (que provavelmente eu não vou saber responder). Só deixando claro que meu conhecimento em arte é tão autodidata como o modo como faço meus trabalhos (eita... lá vai eu e o narcisismo de novo) e portanto, não é lá tãão vasto, podendo muito bem acontecer algumas deslizadas... calma, que o santo é de barro! Hoje vamos falar de uma coisa que há algum tempo tem sido motivo da queda de cabelo de muitos pintores realistas por aí afora, que é:
Qual o futuro da pintura figurativa?
Esta é uma perguntinha que inquieta muitos da arte, principalmente aqueles que praticam a arte figurativa, é claro! Alguns dizem que não conseguem entender como a arte abstrata é tratada como arte, afinal, “não passa de manchas e rabiscos numa tela” e coisas do tipo, mas não é bem assim. Para entender todo esse complicado mundinho colorido é preciso ir pra época do “preto e branco” e dar uma olhadinha na história.
Senta que lá vem a história!
A arte figurativa reinou por muito tempo na história, retratando, representando, brincando com a imaginação e com os mitos e lendas dos povos. Em alguns períodos, a figura do pintor era tremendamente respeitada, ocupando um alto posto na sociedade. Mas o tempo foi passando e inevitavelmente as coisas foram mudando. E como sempre, conforme as coisas evoluem, algumas profissões vão sendo tremendamente ameaçadas, como hoje é, por exemplo, o vendedor de enciclopédias, como disse outro dia Jimmy Wales, o pai da famosa enciclopédia online, wikipédia.
Desde o invento da fotografia em 1825 mais ou menos (data da primeira fotografia permanente conhecida da história), a pintura figurativa foi perdendo um pouco o rumo, afinal, antes a pintura era um essencial meio ilustrativo de registro e depois da fotografia, a pintura não precisava mais necessariamente ter este “ofício”. A arte tinha alcançado níveis de perfeição neste período, através de grupos como os Pré-Rafaelitas, por exemplo, agora não precisaria mais do realismo como antes. Aos poucos a pintura foi se abstraindo, se estilizando, pintores encontraram novas formas de reformular o modo de pintar, como Cézanne, Seurat, Degas, Matisse, Picasso, entre outros tantos.
Até que surgiu a pintura abstrata que, sem se preocupar em retratar nada, busca expressar os sentimentos através das cores e formas de uma maneira mais visceral, digamos assim. Nestes trabalhos, cores podem expressar estados de espírito, criar sensações, como tristeza, alegria, etc, as formas podem dar dinamismo a obra, orientar o olhar, e por aí vai!
A pintura figurativa não deixou de existir ou de ser apreciada, ressurgindo em outros períodos importantes na pintura como o surrealismo e a pop art, mas com certeza a arte abstrata virou quase sinônimo de pintura moderna, o que limitou muito a importância do figurativo. O mundo da arte ficou então mais democrático, se pensarmos bem, afinal, não era mais obrigatório saber desenhar bem para ser um artista de sucesso, vide o caso de Jackson Pollock com sua Action Paint.
Hoje em dia, quem consegue ainda viver da venda de trabalhos figurativos, tem o incômodo de conviver com a chatice da ansiedade de pessoas que encomendam retratos, paisagens e flores para pendurar na parede de uma sala ou de qualquer outro cômodo da casa, sem quaisquer garantias de conseguir algum reconhecimento no meio artístico, na maioria das vezes. E olha que nem estou tocando no assunto de dar um preço no trabalho feito, que ao meu ver, é a parte mais complicada. Infelizmente, pra quem mexe com pinturas figurativas o futuro não é muito promissor e a concorrência é grande, já que tem bons pintores em todo canto.
Inclusive, fazendo um breve parênteses no assunto, indico o filme "O mestre da vida" (Local Color), que conta a história de um jovem pintor iniciante que fica todo empolgado com um velho e talentoso pintor figurativo, tentando a todo custo tomar aulas com ele. O filme toca muito nesse ponto da batalha entre arte figurativa e arte abstrata. Muito bom o filme... assistam!
Mas voltando, responder “qual o futuro da pintura figurativa” é na verdade uma tremenda roubada porque é uma pergunta um tanto sem respostas. A pintura figurativa vai sempre existir e coexistir com a pintura abstrata, mas hoje em dia, outras possibilidades inquietam alguns. Outro dia, estava conversando exatamente sobre isso com meu amigo Geraldo Bope, artista expressionista (visitem aqui o site do artista e confiram o seu trabalho), sobre a dificuldade de viver de arte e a possível ameaça da tecnologia ao mercado de arte, já que hoje é muito possível mandar imprimir a imagem que bem quiserem no tamanho que bem entenderem e por um preço muito inferior ao de uma pintura feita por qualquer artista. Será este o fim do pintor? A criatura superando o criador?
Assim como acontece entre pintura figurativa e abstrata, parece que acontecerá entre pinturas manuais e pinturas artificiais… mas aos poucos a gente vai aprendendo que não há competição, mas sim a interação de meios de arte, agregando valores. A pintura realista em três dimensões não quer competir com a escultura, como a fotografia não compete com o cinema , como a escultura não compete com a instalação e etc, mas eles coexistem, como deveria ser com o todo o resto.
"Existir é coexistir"
(Gabriel Marcel)
Esta é uma perguntinha que inquieta muitos da arte, principalmente aqueles que praticam a arte figurativa, é claro! Alguns dizem que não conseguem entender como a arte abstrata é tratada como arte, afinal, “não passa de manchas e rabiscos numa tela” e coisas do tipo, mas não é bem assim. Para entender todo esse complicado mundinho colorido é preciso ir pra época do “preto e branco” e dar uma olhadinha na história.
Senta que lá vem a história!
A arte figurativa reinou por muito tempo na história, retratando, representando, brincando com a imaginação e com os mitos e lendas dos povos. Em alguns períodos, a figura do pintor era tremendamente respeitada, ocupando um alto posto na sociedade. Mas o tempo foi passando e inevitavelmente as coisas foram mudando. E como sempre, conforme as coisas evoluem, algumas profissões vão sendo tremendamente ameaçadas, como hoje é, por exemplo, o vendedor de enciclopédias, como disse outro dia Jimmy Wales, o pai da famosa enciclopédia online, wikipédia.
Desde o invento da fotografia em 1825 mais ou menos (data da primeira fotografia permanente conhecida da história), a pintura figurativa foi perdendo um pouco o rumo, afinal, antes a pintura era um essencial meio ilustrativo de registro e depois da fotografia, a pintura não precisava mais necessariamente ter este “ofício”. A arte tinha alcançado níveis de perfeição neste período, através de grupos como os Pré-Rafaelitas, por exemplo, agora não precisaria mais do realismo como antes. Aos poucos a pintura foi se abstraindo, se estilizando, pintores encontraram novas formas de reformular o modo de pintar, como Cézanne, Seurat, Degas, Matisse, Picasso, entre outros tantos.
Até que surgiu a pintura abstrata que, sem se preocupar em retratar nada, busca expressar os sentimentos através das cores e formas de uma maneira mais visceral, digamos assim. Nestes trabalhos, cores podem expressar estados de espírito, criar sensações, como tristeza, alegria, etc, as formas podem dar dinamismo a obra, orientar o olhar, e por aí vai!
A pintura figurativa não deixou de existir ou de ser apreciada, ressurgindo em outros períodos importantes na pintura como o surrealismo e a pop art, mas com certeza a arte abstrata virou quase sinônimo de pintura moderna, o que limitou muito a importância do figurativo. O mundo da arte ficou então mais democrático, se pensarmos bem, afinal, não era mais obrigatório saber desenhar bem para ser um artista de sucesso, vide o caso de Jackson Pollock com sua Action Paint.
Hoje em dia, quem consegue ainda viver da venda de trabalhos figurativos, tem o incômodo de conviver com a chatice da ansiedade de pessoas que encomendam retratos, paisagens e flores para pendurar na parede de uma sala ou de qualquer outro cômodo da casa, sem quaisquer garantias de conseguir algum reconhecimento no meio artístico, na maioria das vezes. E olha que nem estou tocando no assunto de dar um preço no trabalho feito, que ao meu ver, é a parte mais complicada. Infelizmente, pra quem mexe com pinturas figurativas o futuro não é muito promissor e a concorrência é grande, já que tem bons pintores em todo canto.
Inclusive, fazendo um breve parênteses no assunto, indico o filme "O mestre da vida" (Local Color), que conta a história de um jovem pintor iniciante que fica todo empolgado com um velho e talentoso pintor figurativo, tentando a todo custo tomar aulas com ele. O filme toca muito nesse ponto da batalha entre arte figurativa e arte abstrata. Muito bom o filme... assistam!
Mas voltando, responder “qual o futuro da pintura figurativa” é na verdade uma tremenda roubada porque é uma pergunta um tanto sem respostas. A pintura figurativa vai sempre existir e coexistir com a pintura abstrata, mas hoje em dia, outras possibilidades inquietam alguns. Outro dia, estava conversando exatamente sobre isso com meu amigo Geraldo Bope, artista expressionista (visitem aqui o site do artista e confiram o seu trabalho), sobre a dificuldade de viver de arte e a possível ameaça da tecnologia ao mercado de arte, já que hoje é muito possível mandar imprimir a imagem que bem quiserem no tamanho que bem entenderem e por um preço muito inferior ao de uma pintura feita por qualquer artista. Será este o fim do pintor? A criatura superando o criador?
Assim como acontece entre pintura figurativa e abstrata, parece que acontecerá entre pinturas manuais e pinturas artificiais… mas aos poucos a gente vai aprendendo que não há competição, mas sim a interação de meios de arte, agregando valores. A pintura realista em três dimensões não quer competir com a escultura, como a fotografia não compete com o cinema , como a escultura não compete com a instalação e etc, mas eles coexistem, como deveria ser com o todo o resto.
"Existir é coexistir"
(Gabriel Marcel)
Malcriado, puxa.
ResponderExcluirMais um pouco e você entra no mundo da pintura digital, principalmente quando começa falar da tecnologia na arte.
Quem sabe entre uma maionese e outra, você acaba fazendo uma matéria sobre esse tema que é tão novo.
abraços.
Sr do Vale: É uma ótima sugestão, Mister! Na verdade, eu já até tenho alguma coisa engatilhada para o próximo "filosofando". Aguarde cenas do próximo capítulo!
ResponderExcluirFaloU!
Edu:
ResponderExcluirPostei o Soneto III e um excerto da Cena do Balcão de Romeu e Julieta de Shakespeare. Vou postar todos os dias. Mas não vou chamar as pessoas todos os dias porque é muito cansativo. Basta ir lá e achará sempre algo de novo.
Um abraço,
Renata
Deixo este recado no outro Blog
Ulalá! A sua cultura tá muito "bemcriada",isso sim.Parabéns!Vc tem toda razão,a arte é inesgotável e estará sempre se expandindo.Se ela é criada pelo Homem, tem que necessariamente acompanhar as mudanças,as transformações sociais,a visão de mundo.A pintura figurativa desempenhou durante muito tempo,a função da fotografia.Aliás, ainda hoje temos pintores figurativistas excelentes,que fazem um trabalho semelhante ao da fotografia, por exemplo, o iraniano Ian Malek, não é? Acho que a pintura abstrata oferece muito mais possibilidades para criar, para transceder e, principalmente, para transgredir!Gosto muito da forma como vc escreve e das observações que faz nas "entrelinhas".Mais uma vez, Parabéns!
ResponderExcluirAmigo Malcriado, maionesicamente filosofado, continuo a viajar no seu ótimo texto. Se houve quem se revoltasse com a fotografia por perder seu ganha pão, imagine o que esses diriam sobre quem faz suas telas a partir de... fotografias! (rsrsrsrs) A Arte sempre arruma um jeito pra tudo, utilizando todo e qualquer meio para se chegar a um fim, graças à criatividade dos verdadeiros artistas.
ResponderExcluirValeu pela dica do filme, também; já vou procurar na locadora...
Parafraseando o citado Gabriel Marcel - se existir é coexistir, então viver é conviver - e é muito bom conviver, mesmo que virtualmente, com amigos/artistas como você e aquele doido lá de cima, o Sr do Vale.
Um grande abraço.
P.S.: Dê-se ao luxo de narcisar à vontade, porque nem sempre isso é tão ruim assim, o que é ruim é o extremismo, fanatismo e vários ismos desse tipo... (rsrsrsrs)
Renata: Beleza Rê... depois passo por lá, pode deixar! Não precisa se incomodar em chamar porque o seu blog está na minha lista de rss, então eu vejo automaticamente quando tem coisa nova.
ResponderExcluirCirandeira: O grande barato da arte é a interação com outras... a pintura figurativa sempre vai existir e sempre terá bons artistas.
Obrigado pelas palavras!
Carmelo: Pois então, meu chapa... o tal do "carmelito" acabou pegando mesmo, mas não foi por mal, não! É a mesma coisa de eu chamar o Sr. do Vale de Mister! hehehe. Esse exemplo que você deu me fez lembrar da reação que tive quando vi que lançaram uma vitrola com entrada USB!!! Valeu!
Caro amigo, antes de mais, parabéns pela excelente obra que intitulou “Voltando para casa”. Li com imensa atenção os variadíssimos posts que colocou antes e depois, questões que concluo serem ao mesmo tempo fundamentais e acessórias. Fundamentais para quem esta por fora na maior parte dos casos e cataloga o que é feito. Temos como ser humanos que formatar e limitar a visão de que observa sem uma particular implicação. Por dentro o mais importante é o que possamos fazer. A margem entre o que os “outros” apreciam e o que nos desejamos que eles apreciem é divaga. Sempre tive o espírito de “quem não gosta, não é obrigado a comer”. Quanto ao facto do figurativo ser uma arte que apenas é ou foi, teríamos muito para trocar. Desde a primeira “mão “pulverizada” nas paredes das grutas do paleolítico até hoje, as flutuações foram significativas. Que dizer dos pintores da idade média, ou de “El Greco” ou até Goya. Além da mitologia ou a representação figurativa a intenção profunda artística era maior do que a de muitos coloristas, cubistas e ademais que apenas “pintavam.”
ResponderExcluirNunca me preocupei com quem escreveu, descobriu, leu, fez, pintou, esculpiu, tendo uma memoria quase exclusivamente visual e emocional, recordo o que vejo e o que sinto depois se é incógnito ou Picasso, é-me naturalmente igual.
Tem toda a razão da dificuldade em viver da arte em si, não só e apenas de um tipo qualquer, aliás, a vida em si é complicada, vou-lhe dar o exemplo de uma amiga que é importadora de quadros representativos da cidade de Paris e de muitas copias a óleo de telas mais famosas. Tem os modelos que manda fabricar em china e que depois vende ao retalho por esta cidade fora e certas metrópoles francesas e até inglesas. Vejo com arrepio que tudo se vende. O caso das telas “orientalistas” onde se passa a fotocopia a cores de uma tela e depois a pessoa apenas tem que seguir as cores, além de serem vendidas, falando concretamente a mais de 2500$ US em galerias no centro da cidade. Um autêntico “roubo”. Mas mesmo assim, acredito que ainda há espaço para quem cria, e mesmo utilizando o figurativo faz passar muito mais do que uma simples representação realística moderna. Escrevi algumas paginas antes de começar os meus retratos, e ainda não sei, como vou fazer. Mas na realidade a beleza “ canónica” é de uma simplicidade consternante. A verdadeira dificuldade está na capacidade de mostrar nela o que mais nos repulsa, sem que o observador o desvende.
Um abraço e excelente fim-de-semana para si caro amigo.
Meu querido, olha, melhor discutir "o sexo dos anjos"...não, não, não estou querendo dizer que a sua abordagem não seja válida. Na verdade, foi realizada com muita pertinência e seriedade, mas "cabeça de artista" é um negócio de louco, aliás, é preciso mesmo ter um parafuso a menos para mergulhar nesse oceano...
ResponderExcluirAguardaremos ansiosos o próximo capítulo!Rssss
Beijão!!!
Nossa! Até a senha daqui tem arte?
ResponderExcluirDERSU: me fez lembrar o excelente "Dersuzala" de Kurozawa, filmaço, hein? Byeeee
Maionesico Malcriadálico, vim nutrir-me neste banquete, e vejo que não somos os únicos a viajar neste creme deslizante.
ResponderExcluirUm grande abraço mano, pro Carmello também, aquele doido varrido do Rio pro Pará.
Carlo: Fico muito grato pelas palavras. Realmente tratar de assuntos assim dá muito pano pra manga. Muito interessante o caso de sua amiga, mas assim como você, eu acredito que sempre vai haver espaço pra quem tem talento, com ou sem dificuldade.
ResponderExcluirVanuza: Estamos aqui pra complicar e não explicar nada, afinal, umas provocaçõezinhas dessas sempre dão uma temperada nas nossas idéias. Sobre a senha, foi um puro caso de sorte!! hehehehe
Sr do Vale: "maionésico" foi demais!! hehehe
Renata: Acabei de passar por lá, apesar de um pouco atrasado!