Xaxim - Esboço 1
Acrílico sobre tela - 20 x 30 cm - 2012
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O post de hoje vai ser um pouco diferente... ao invés de falar do processo de produção de uma pintura, vou falar sobre duas pinturas diferentes num mesmo post. Entre o final do ano passado e o início deste ano, me envolvi com um projeto, novamente relativo à música (que vive me perseguindo), mais particularmente a do músico Felipe Ávila, que me encomendou a capa do seu novo disco chamado "Xaxim". As pinturas de hoje são o resultado deste trabalho. Mas antes de entrar no assunto das pinturas propriamente, é preciso entender todo o contexto do trabalho.
Há cerca de um ano, conheci o músico que veio até Macaúbas para um passeio curto, acompanhando um tio meu afim de conhecer o interior baiano e neste meio tempo, conhecemos o trabalho um do outro e fizemos amizade. Na verdade, estas pinturas postadas aqui hoje são apenas opções de escolha que fiz para a capa do disco de Felipe, que será postada aqui posteriormente... o título deste post ficou como "esboços", o que talvez não seja bem o caso aqui, mas estas pinturas acabaram servindo mesmo como um esboço que me encaminharam para uma ideia melhor que surgiu depois.
Um dos esboços que fiz, antes de partir para a pintura das opções |
Voltando ao assunto, após a visita dele à Macaúbas surgiu então o convite para ilustrar a capa do seu novo CD, que na verdade se tornou um pequeno desafio pra mim... a ideia do nome 'Xaxim', segundo o próprio músico, veio da sonoridade do nome, além de ser algo extremamente fértil e que tudo nele brota. O disco, instrumental, já vinha sendo composto e a sua visita à Macaúbas acabou gerando algumas músicas que completaram o disco. Depois de um bom tempo, de vários desenhos e muitas conversas depois, a ideia finalmente foi ganhando corpo e culminou na imagem escolhida.
No começo eu tinha feito alguns desenhos mais simples com as ideias que foram surgindo, para só depois de escolhida alguma, partir para refazê-la de forma mais trabalhada, num outro tipo de material. Mas esta ideia acabou não dando muito certo! Como de costume, fui atrás de referências. Fui atrás de diferentes tipos de xaxins, de instrumentos e etc para ajudar na composição dos desenhos... cheguei até a ir numa floricultura daqui pra tirar foto de um xaxim (e acho que a vendedora deve estar até hoje sem entender nada!). Algumas tentativas depois, o único jeito que encontrei foi partir logo para os 'finalmente'... resolvi que faria os modelos pintados em tinta acrílica sobre tela mesmo e aqui estão duas opções (de três) que apresentei.
Esboço em papel, feito em nanquim e lápis aquarela |
O grande complicador no contexto deste trabalho era de que a imagem teria que, mais ou menos, mostrar um pouco o caráter experimental e futurista do som do Felipe, que não é lá muito comercial. No começo deste ano foi a minha vez de ir à São Paulo, onde ele me mostrou algumas músicas do disco, falou um pouco sobre o trabalho, fez algumas sugestões, falou sobre a expectativa de ter algo meio fora do comum ilustrando o trabalho (sugerido como algo meio surrealista) e que ao mesmo tempo deixasse a entender o caráter do seu estilo musical. Tarefa difícil!
Depois de muitos neurônios queimados baseados na nossa conversa, fui dando corpo a ideia de algo com uma cara um pouco de Salvador Dali, com um vasto campo com animais pastando, mas que, se melhor observados, estavam enraizados no chão como se fossem plantas que brotassem de um mini planeta abrigado num xaxim.
O trabalho precisava ser entregue logo e isto gerou alguns problemas, como adquirir o material ideal como as telas quadradas (mais ou menos num formato proporcional a capa de um disco) e que infelizmente, pela limitação do mercado local, acabei não encontrando... tive que apelar para as telas retangulares e, por azar, só achei telas com textura grossa. Não daria pra comprar fora, pois demoraria demais pra chegar a tempo. Outra coisa foi arrumar tempo para fazê-lo logo e, o maior problema de todos, achar uma ideia boa o suficiente para convencer tanto o Felipe como a mim mesmo.
Esta pintura ficou bem interessante, o céu da imagem ficou muito bom e com bastante profundidade, as árvores ficaram boas, os animais ficaram relativamente bons, o xaxim ficou relativamente legal também, mas ainda não estava 100%. A posição que eu escolhi focar não ficou muito legal... se as bordas tivessem completado a volta no cenário, ele ficaria ainda mais estranho... seria apenas algo como se fosse uma tampa com desenho. Faltava profundidade! Não teria aquele ar de vivo, que salta pra fora, talvez porque o horizonte ficou muito "alto". Mas de qualquer forma, acabou saindo assim mesmo... apesar de, assim que terminei, ter achado que ficou bom, eu ainda não estava totalmente convencido disto... isto só significava uma coisa: tinha que fazer outro!
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Xaxim - Esboço 2
Acrílico sobre tela - 20 x 30 cm - 2012
Como eu não estava 100% satisfeito com o primeiro resultado, resolvi que faria um segundo esboço em tela. Nesta segunda tentativa segui a mesma linha de raciocínio do primeiro, mas corrigindo os problemas que eu havia percebido. Desta vez, o xaxim estava menos visível, apenas com uma pequena parte dele aparecendo. O xaxim envolve um enorme campo que se perde de vista, com árvores que crescem com forma de instrumentos, além de outros detalhes que fazem alusão à instrumentos musicais, como a depressão na pequena colina que abriga os sopros-metais e no canto direito as pedras que lembram uma bateria. De certa forma, ficou melhor que o primeiro, com exceção do céu, que no anterior estava melhor, incluindo as nuvens e as estrelas, que no anterior despontavam fora da atmosfera do xaxim e que neste caso, ficaram simétricos demais o que deixou um ar de artificialidade no céu (se essa distribuição fosse mais irregular, ficaria melhor).
Quando terminei este, achei que a ideia de fazer as árvores com forma de instrumento foi muito boa, mas que a pintura, no geral, ainda não estava do jeito que eu queria. Ainda estava no mesmo nível do anterior! O trabalho só funcionaria bem se causasse um choque (estético) em quem observasse. Outra parte que não agradou muito nesta pintura foi pelo fato de não haver muita relação com o xaxim, que ficou muito escondido na imagem. Para alguém que observa casualmente, sem qualquer informação, jamais saberia que se trata de um xaxim que abriga um mundo vivo e diversificado. Precisava ser algo mais claro de se entender e com impacto maior, ou seja, ficou bem claro para mim que este tipo de abordagem não estava funcionando muito bem. Era preciso radicalizar para dar certo, mas isto é o tema do próximo post.
Que trabalhão, não é, Edu? Mas como és um artista bastante talentoso, todo esse trabalho vai desenvolvendo cada vez mais o teu talento!
ResponderExcluirSão os "ossos do ofício", não é?
Ficaste um bom tempo ausente da blogosfera, hein? Sentí tua falta, viu?
um beijo grande!
Oi Ci!
ExcluirPois é... mas valeu a pena, sim! Esse meu sumiço foi por causa de um monte de coisas que surgiram esse ano, como o mosaico que fiz, uma exposição minha que tá acontecendo agora (http://iconesdamusica.blogspot.com.br) e esse trabalho daqui. Mas a gente some, mas uma hora acaba voltando! rs
Bjo!
Seus trabalhos são únicos, tem a tua expressão, e sou grande fã de sua arte, tenho muito a aprender com você.
ResponderExcluirBeijos,
Cris
Poxa, Cris! Fico muito feliz (e sem jeito também) em saber que uma artista tão completa na arte do grafite pensa isto de mim... é uma honra, sem dúvida!! Também admiro demais o seu trabalho!
ResponderExcluirBjão!
Parabéns! Bonito de ver todo o processo e, por fim a obra finalizada! Ilustração maravilhosa!
ResponderExcluirObrigado, anônimo!
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