sexta-feira, 26 de março de 2021

- Marcas da Pandemia -

Acrílico sobre tela - 30 x 40 cm - 2020

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Restando pouco menos de uma semana para encerrar a exposição coletiva virtual “Com os olhos de Ludmila”, que ocorre no Centro Cultural Meridian em Moscou (Rússia), percebi que ainda não havia publicado sobre a obra de arte que está fazendo parte desta exposição e, portanto, é um momento muito oportuno para tratar sobre ela aqui no Arte por Parte. É um trabalho que, ao mesmo tempo em que foca no que seria um costume ideal de prevenção (a máscara de proteção, se adotada da forma como deveria ser utilizada), é também uma crítica para a falta de utilização adequada por grande parte da população brasileira em meio às situações críticas de saúde pública. 

O processo artístico

Centenas de banhistas ignoram obrigatoriedade de máscaras faciais e aproveitam dia de sol em praia de Santos, SP — Foto: Matheus Tagé / Jornal A Tribuna

"Marcas da Pandemia" - detalhe
Quando esta obra foi concluída, em novembro de 2020, foi amplamente veiculado pela mídia brasileira cenas de praias lotadas de banhistas, sendo que muitos sequer utilizavam as máscaras de proteção, como se o país já estivesse imune ao risco da pandemia. Tanto não era o caso, considerando que o governo brasileiro nunca lidou minimamente para combater e conscientizar as pessoas sobre os riscos e cuidados, como ainda estava alto o número de infectados por covid-19. O discurso negacionista do presidente infelizmente ainda influencia uma parcela da população, aliados à falta de um programa nacional de conscientização para os cuidados de saúde e a polarização política que divide o povo e estimula comportamentos, gerou novas variantes do vírus e agora, como consequência, o Brasil vive o seu pior momento na pandemia, colapsando o sistema de saúde, tanto público quanto privado.

Considerando todo este contexto denso da atualidade, decidi produzir uma pintura que mostrasse um busto de mulher que exibe em seu corpo as marcas de bronzeamento tanto pelo uso do biquíni quanto pelo uso da máscara de proteção. Desta forma, a imagem engloba diversos aspectos como os novos costumes impostos pela pandemia (o uso da máscara), como pela vaidade estética buscada pelo bronzeamento e também serve como uma crítica às pessoas que mesmo diante de um cenário preocupante de saúde pública, ainda assim vão para as praias, se aglomerando e enfrentando um risco totalmente desnecessário, mesmo que a personagem esteja exibindo no rosto a marca pelo uso da máscara.

Inspirações

Quando fiz a obra, não usei como referência nenhuma obra de arte de artistas do passado ou do presente, mas tomei como base a própria realidade que os noticiários mostravam, coisa que de um ano para cá, a propósito, tem se revelado para mim como um bom aliado para explorar temas. Um outro fator que já venho observando e que me serviu foram as próprias redes sociais. A busca incansável pela perfeição estética por muitos, que buscam corpos bem definidos e sensuais, não importa o quanto custe para alcançar este objetivo, é algo que vejo com certa incompreensão.


Principalmente neste período da pandemia, onde houve momentos em que foi preciso restringir o funcionamento de locais que ofereciam maior risco de contaminação, como é o caso das academias de ginástica, vi algumas reclamações bastante indignadas sobre estas restrições (quase todas feitas por usuários destas academias ou por quem tinha alguma ligação financeira com elas), se negando a aceitar o risco que estes locais oferecem, pensando exclusivamente na prática que estava sendo negada.

A Obra

Quando fiz esta arte, num certo momento cheguei a pensar que ela ficaria datada muito rápido. Apesar de novembro não estar muito longe de agora (março), o comportamento negligente das pessoas ainda persiste (o que chega a ser incrível hoje), mesmo com os níveis absurdos de novos infectados, mortes e colapso do sistema de saúde em quase todo o país. A esta altura, tenho a impressão que o uso da máscara de proteção não vai simplesmente desaparecer por completo após esta pandemia passar, o que me faz concluir que talvez esta arte não fique desatualizada tão rapidamente assim. Só o tempo poderá confirmar isto.

"Marcas da Pandemia" - detalhe
Acredito que a ideia de utilizar a figura da mulher, focando apenas nas suas marcas de bronzeamento, deu um ar tropical para a imagem. Quando tenho alguma ideia para artes, geralmente tenho uma imagem mental que tento seguir e nem sempre o resultado final fica de acordo com o que minha imaginação me apresenta, mas nesta obra o resultado foi exatamente o mesmo que eu tinha em mente. Acredito que a mensagem também esteja bastante clara para quem vê, ainda que sempre haja a possibilidade de uma interpretação totalmente diferente do que eu tinha planejado inicialmente, o que logicamente também é válido.

Imagens: Google



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Licença Creative Commons
"Marcas da Pandemia" de Eduardo Cambuí Junior está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em https://www.arteporparte.com/p/contato.html.




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